No domingo passado, iniciou-se o período do Advento, tempo litúrgico de preparação para acolher o Deus que se fez menino e veio mostrar o caminho, a verdade, a vida e anunciar o retorno triunfal do Seu Filho amado, no final dos tempos. As quatro semanas deste período deveriam ser de reflexão, renúncia, penitência, desapego, doação, harmonia e desprendimento, nos levando à reconciliação, à paz e à solidariedade para vivenciarmos com plenitude e alegria o nascimento do Menino Jesus Salvador. Dito isso, fica claro que o Natal pede ao cristão coerência, humildade, justiça e amor por si e pelo outro, um desafio que nem sempre é fácil de atender. Neste emaranhado vem o Papa Francisco e surpreende o mundo ao denunciar a hipocrisia dos que compartilham em detalhes as manifestações exteriores da época natalina, mas que interiormente fomentam o desamor, a guerra, o ódio ou se omitem de fazer coisas que poderiam evitar ou minorar a dor, o sofrimento, a fome, a morte e que se aproveitam de revezes para enriquecer.
Neste cenário de desencontro que estamos vivendo em tantos lugares e que a tantas pessoas apoquenta, cabe pensarmos, como cristãos e cidadãos, o que podemos fazer para acabar com as tragédias e banir a farsa em que, para muitos, se traduzem as comemorações natalinas. Esta constituiu-se numa grave circunstância que deve envergonhar a humanidade e que contradiz o espírito natalino, junto com o recrudescimento de uma certa paganização ou mundanização das festas natalinas.
O Natal, como temos visto, é, para cada vez mais pessoas, um período de pensar apenas nos presentes a pedir ou oferecer, nos negócios, nos vinhos e nas comidas para a ceia, na roupa, na decoração, na iluminação e na árvore a ser montada e enfeitada, esquecendo ou relegando ao segundo lugar a centralidade do presépio e sua lição de humildade, paz e amor. E não nos surpreende que o advento deste Natal profano, consumista e egoísta tenha um período cada vez maior: não só dos quatro domingos que a liturgia reserva à festa religiosa, mas os meses que se iniciam logo as férias de verão!
Esta paganização do Natal é que os cristãos devem denunciar, e sobretudo combater com seu exemplo de vida. É isso que queremos celebrar no Natal? É para este materialismo que estamos preparando nossa casa? É para este individualismo que estamos escancarando nossas janelas? É para consolidar os guetos que abrimos nossas portas? Aqui, cabe a questão: será que teremos força, coragem e fé para nadar contra a corrente, incorporar o verdadeiro espírito de Natal, para, enfim, sermos sal, fermento e luz em nossos ambientes? E você, caro leitor, está disposto a viver esta fase adventícia com sobriedade, solidariedade, paz e amor fraterno como condição para a sincera e verdadeira alegria da celebração do Natal de Cristo?